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Vida em Marte? Perseverance confirma sinais de lago alimentado por rio

Imagem feita pela Perseverance mostra detalhes da cratera Jezero - AFP
Imagem feita pela Perseverance mostra detalhes da cratera Jezero Imagem: AFP

10/10/2021 12h01

O rover Perseverance, que chegou em fevereiro a Marte, entregou as primeiras fotos em alta resolução do solo do planeta vermelho feitas pela Supercam, que fica no mastro do robô da Nasa, e os resultados reforçam sinais de vida no local do pouso.

Enviadas por satélite, elas confirmaram o que havia sido observado da órbita: sinais na cratera Jezero indicam que há cerca 3,6 bilhões de anos ali havia um lago fechado alimentado por um rio.

O estudo publicado na revista Science, o primeiro desde a aterrissagem do Perseverance, oferece numerosos detalhes sobre a história da cratera, que tem aproximadamente 35 quilômetros de diâmetro.

A Supercam permitiu identificar estratos de sedimentos que são "ótimos candidatos para se encontrar sinais de vida do passado", explicou o Centro Nacional da Pesquisa Científica da França (CNRS, na sigla em francês).

Esses estratos, procedentes de um monte de 40 metros de altura batizado de Kodiak, são "sedimentos argilosos ou arenosos, nos quais é mais fácil preservar matéria orgânica", explicou o astrogeólogo Nicolas Mangold, um dos autores do estudo.

'Matéria orgânica'

Segundo Sylvestre Maurice, do instituto de pesquisa em astrofísica e planetologia da Universidade Paul Sabatier, em Toulouse, as imagens indicam matéria orgânica nas profundezas do solo e nos depósitos de sedimentos do delta de um rio.

Esse tipo de matéria é produzida por organismos vivos —uma mistura de moléculas complexas de carbono, hidrogênio, nitrogênio e de umas poucas de oxigênio.

"O que confirma o interesse pela cratera Jezero por parte da astrobiologia [ciência que estuda a vida no universo]", explicou ele.

O Perseverance também detectou a presença inesperada de grandes pedras e blocos rochosos, que evidenciam a existência no passado de fortes correntes fluviais.

De acordo com o estudo, o fim do período lacustre da cratera estaria relacionado com uma mudança climática maior.

"Que tipo de clima gerou esta transição? Uma desertificação ou uma glaciação? É o que estamos investigando", falou Mangold.

Todas essas observações, feitas pelo rover a uma distância de mais de 2 quilômetros das formações geológicas estudadas, permitirão que agora o equipamento se concentre em recolher amostras, que deverão ser trazidas para a Terra até 2030 para serem examinadas.

Outros dois robôs, Curiosity e Insight, estão atualmente explorando outros pontos da superfície de Marte.

Em setembro de 2022, a missão russo-europeia ExoMars deve enviar a Marte um robô projetado para perfurar o solo do planeta vermelho por mais de um metro de profundidade, um feito que seria inédito.